Sobre esta página. João de Melo

Há quem não leia para além do que vai escrito. 
Tudo tem de ser literal: chão rua noite e casa, 
cama mesa e roupa lavada. Nem silêncio nem grito, 
consoante as penas que se transporta em cada asa. 

Guarda o talento para ti, não mudes de página. 
Há gente capaz de se negar à própria evidência 
e de te acusar de mundos e reinos criados por álgida 
imaginação, de asno com excesso de inteligência. 

A nada e ninguém repliques. O segredo 
só a ti pertence, tão único como tu. Lês 
por dentro o que escreves, sozinho na noite 
qual condenado às trevas do seu degredo. 

Caminha sobre a página. Mudarás não o sentido 
nem o ritmo nem a música nem a voz do poema, 
e sim o verbo que te levará à vista do infinito. 

João de Melo

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